ATLAS – UM NOVO TEMPO
PATRONO DA CADEIRA N° 01
Tobias Barreto de Menezes
Tobias Barreto de Menezes (*1839 +1889) - Na então pequena e pacata Vila de Campos, na fronteira Bahia-Sergipe, a 7 de junho de 1839, nascia Tobias Barreto de Menezes, dimensão maior do talento sergipano. Eram seus pais o major Pedro Barreto de Menezes e d. Emerenciana Maria de Menezes, ambos naturais de Campos. As primeiras lições lhe foram ministradas pela genitora, ingressando ele, depois, na escola particular do professor Manuel Joaquim de Oliveira Campos, onde fez os estudos elementares, recebendo os maiores elogios por sua vivacidade e pronto raciocínio. Sempre dedicado aos livros, seguiu para Estância em setembro de 1851, onde foi aluno de Latim do padre Domingos Quirino de Souza, posteriormente Bispo de Goiás, frequentando também as aulas de Música do maestro Marcelo José de Santa Fé.
Retornou a Campos em fevereiro de 1853, indo, em agosto desse ano, a Lagarto, concluir os estudos da Língua Latina com o padre José Pitangueira, político, professor, jornalista e advogado. Ainda em Lagarto, estudou Português com o professor Miguel Teotônio de Castro. Aberto concurso para a cadeira de Gramática Latina, na cidade de Maruim, em 1854, Tobias, com apenas quinze anos, a ele compareceu, deixando os examinadores admirados com seu preparo e sua inteligência. Concedem-lhe o título de Substituto em qualquer cadeira de Latim, na Província. Conquistado o título, ficou em Lagarto. Passou a residir na casa do padre Pitangueira, ensinando primeiras letras e, de quando em quando, substituindo o ilustre sacerdote, à espera de que o mesmo se jubilasse. Eis que surge, em setembro de 1855, atingindo a vila de Campos, o terrível cólera-morbus, forçando Tobias a ir à sua terra, nela permanecendo até 1856. Em outubro desse ano, o padre Pitangueira é jubilado, cabendo-lhe, por direito, já que era seu substituto legal, a nomeação. Não logrou, porém, realizar a sonhada aspiração. Foi, surpreendentemente, preterido.Verificando-se a vaga da cadeira de Latim, em Itabaiana, Tobias Barreto é avisado, em Campos, pelo bacharel Salustiano Orlando de Araújo Costa, e, incentivado por esse seu amigo e admirador, resolveu concorrer. Na data fixada, comparecia à Capital do Estado para o exame. A banca examinadora estava sob a presidência do Coronel de Engenharia José Xavier Garcia de Almeida. Saiu vitorioso, não obstante ter concorrido com homens maduros, de larga experiência, ele com apenas dezessete anos. Após a vitória, voltou a Campos, daí seguindo para Itabaiana, onde chegou em janeiro de 1857, começando logo a lecionar. Em Itabaiana, “sua segunda Pátria”, ampliou seus conhecimentos de Música com Francisco Manuel Teixeira. Nessa época, escreve os primeiros versos, tornando-se, mais tarde, um dos poetas mais festejados do Brasil. Em 1859, conseguiu licença de seis anos que lhe dava direito de estudar em qualquer Província do Império. Deixou, assim, sua querida Itabaiana. O ano de 1860 passou-o em Campos, estudando, aí escrevendo a poesia “Anhelos”, segundo o professor Sebrão Sobrinho, em seu documentado livro “Tobias Barreto, o Desconhecido”. Em 1861, início do mês de maio, seguiu para Salvador, matriculando-se no Seminário Arquiepiscopal, na Rua do Sodré. Cursou as aulas preparatórias, destacando-se as de Filosofia, ministradas pelo teólogo e orador sacro Frei Itaparica. Uma noite, com saudades de Sergipe, apanha o violão e canta uma de suas modinhas. Há alvoroço no seminário, os padres atônitos, perplexos. Chamado à presença de seus superiores, responde Tobias: ”Se os anjos cantam, o fazem para agradar a Deus, o que prova que Deus é alegre, também. Se aqui é triste, não é a casa de Deus e eu não quero viver onde Deus não penetre”. No dia seguinte, ao amanhecer, é informado de que não pode mais continuar no seminário. Abandona-o no mesmo dia, e, à noite, vai ao Teatro São João. Terminando o espetáculo, dirige-se à pensão, onde, madrugada alta, irrompe um incêndio, levantando-se sobressaltado. Daí em diante, Tobias Barreto passa a residir em casa de conhecidos. Faz amizade com os filhos do poeta e repentista Francisco Muniz Barreto - Rosendo e Francisco - não deixando de assistir as aulas, encaminhando-se logo depois para a Biblioteca Pública, onde lê obras de diversos escritores, principalmente de Victor Hugo e Edgar Quinet. Após prestar exames de cinco matérias, retorna a Campos, em dezembro de 1861. Só no ano seguinte, a 17 ou 18 de novembro, vai para a Estância, a cavalo. Aí, permanece alguns dias, até que embarca no paquete Gonçalves Martins com destino à capital pernambucana. Ali chega a 1° de dezembro de 1862. à chegada escreve “à Vista do Recife”, em homenagem à cidade que o recebia. Atacado de varíola em março de 1863, não lhe foi possível matricular-se no primeiro ano da Faculdade de Direito. Estuda no Colégio das Artes, onde presta exame de quatro matérias, ingressando na Faculdade em março de 1864, depois de haver prestado exame de mais três matérias. Na Faculdade encontrou os sergipanos Geminiano Brasil de Oliveira Gois, Terêncio Chavantes, Francisco Alves da Silveira Brito e o poeta José Jorge de Siqueira Filho, natural de Laranjeiras. No ano seguinte, em março, com apenas vinte e seis anos, concorre com seu conterrâneo padre Félix Barreto de Vasconcelos, à cadeira de Latim, vaga no Colégio das Artes. Ambos foram aprovados, mas o concurso foi anulado. Tobias não desanima. Passa a dar aulas de Latim, História, Francês, Filosofia, Retórica e Matemáticas Elementares, percebendo salário. Submete-se a outro concurso de Latim, novamente para o Colégio das Artes, em novembro de 1865, e, apesar de feito provas brilhantes, não consegue nomeação. De temperamento irrequieto, continua a lecionar, a freqüentar a Faculdade, dedicando-se também ao jornalismo, sendo um dos diretores do Acadêmico - órgão estudantil. Esquece as sergipanas Rita de Cássia de Jesus Noronha (Ritinha), Margarida, Felismina Amélia, e Maria Rosa Lima (Bebém), apaixonado que está pela jovem Leocádia Cavalcanti, irmã de um seu aluno, para quem compõe inúmeras poesias. Ela, entretanto, não lhe demonstra afeto, admira-lhe apenas a inteligência e a cultura. Ante o indiferentismo da amada, procurando esquecê-la, freqüenta o Teatro Santa Isabel, onde, à testa de estudantes que aplaudiam a atriz Adelaide do Amaral, enfrenta o jovem poeta Antônio de Castro Alves, que defende a atriz portuguesa Eugênia Câmara, exaltada por outros acadêmicos.
É o duelo entre os representantes máximos do condoreirismo no Brasil. Vive Tobias Barreto vida intensa, estudando, escrevendo, discursando, fazendo poemas, transformando-se em ídolo da brava gente pernambucana. Reconhecido nas ruas do Recife, o povo o cerca, grita seu nome. Casa-se a 11 de fevereiro de 1869 com d. Grata Famalda Félix dos Santos, filha do coronel João Félix dos Santos, senhor de engenho no Município de Escada, interior de Pernambuco. Recebe, nesse ano, a 15 de novembro, o diploma de bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais. No ano imediato, vem à terra natal, de onde leva sua genitora, a viúva Emerenciana. Do casamento, Tobias teve os seguintes filhos: João, Pedro, Maria, Francisco, Eros, Aspásia, Manuel, Targélia e Calíope. Em 1871, transfere-se para Escada, ali vivendo dez anos, retornando ao Recife em 1881. Candidatou-se a Deputado Provincial pelo Partido Liberal para o biênio 1878-1880. Conseguiu ser eleito, mostrando, então, altivez e independência política, ao atacar, muitas vezes, o Presidente da Província, seu correligionário, quando achava que ele estava trilhando caminho errado. Sua existência foi de lutas, consagrada aos estudos. Travou polêmicas, das quais saía sempre vencedor, graças à sua cultura e à sua lógica esmagadora. No concurso para a Faculdade de Direito do Recife derrotou os quatro adversários: Manuel Portela, Laudelino Drumont, Augusto Freitas e Francisco Gomes Parente, a maioria dos acadêmicos ao seu lado, dentre eles Faelante da Câmara, Souza Bandeira, Gumercindo Bessa, Artur Orlando, Manuel dos Passos de Oliveira Teles, Martins Júnior, Francisco Viveiros de Castro, Urbano Santos, Fausto de Aguiar Cardoso e Clovis Beviláqua. Foi nomeado professor por D. Pedro II, empolgou a mocidade. Foi um revolucionário das idéias, o grande mestre daquela famosa Faculdade de Direito. Fundou vários jornais - O Acadêmico, Aqui Para Nós, A Razão, O Povo de Escada, Sinal dos Tempos, Contra a Hipocrisia, Devaneio Literário, O Escadense, O Desabuso, Comarca de Escada e o Der Deutscher Kaempfer (O Campão Alemão), este em língua alemã e de vida efêmera. Paupérrimo, sem meios de subsistência foi conduzido para a casa do sergipano dr. Ovídio Alves Manaia, a convite deste, situada na Rua do Hospício n° 3, onde falece às 22 horas do dia 26 de junho de 1889. Tobias Barreto foi o mais ilustre dos sergipanos e uma das inteligências mais brilhantes do Brasil. Poeta, orador, musicista, professor, jurista, pensador, filósofo, crítico e polemista, a última edição de suas obras compreende 10 volumes:
Introduziu, no Brasil, o alemanismo na crítica e o transformismo darwiniano no Direito; foi enaltecido pelos sábios alemães Lange e Ernesto Haeckel; convidado para representar as Américas no Congresso Internacional dos Homens de Letras; lente honorário da Universidade de Heidelberg e do Instituto Livre de Frankfurt, na Alemanha; professor da Faculdade de Direito do Recife e fundador da Escola do Recife, movimento intelectual poético, crítico, filosófico, sociológico, folclórico e jurídico, cujos postulados eram a valorização da mestiçagem no Brasil, a valorização do homem brasileiro e a investigação do caráter nacional, através da qual procurava ensinar o Brasil a pensar por sua própria conta. Teve como alunos, entre outros, Gumercindo Bessa, Fausto Cardoso, Clovis Bevilacqua, Capistrano de Abreu, Graça Aranha e Sílvio Romero.
Referências bibliográficas:
- * LEI ORDINÁRIA n° 0894/2009 DE 01 de dezembro de 2009.
- * http://populacao.net.br/populacao-tobias-barreto_se.html - Censo 2010 IBGE. Acessado em 20 / 02 / 2018
- * Disponível em: http://www.tre-se.jus.br/o-tre/governanca/zonas-eleitorais/zonas-eleitorais. Acessado dia 01/03/2018 as 14:23h
- * https://cidades.ibge.gov.br/brasil/se/tobias-barreto/panorama
- * Texto extraído do Livro "Tobias Barreto, a Terra e a Gente", do escritor tobiense Aderbal Correia Barbosa.
- * disponível em: http://tobiasbarreto.se.io.org.br/historia
- * Disponível em: http://atlasbrasil.org.br/2013/pt/perfil_m/tobias-barreto_se. Acessado em 11 de fevereiro de 2018.
- * Tobias Barreto (SE), Historia. Disponível em: https://cidades.ibge.gov.br/brasil/se/tobias-barreto/historico
- * Anais da Câmara Municipal de Vereadores - Tobias Barreto e seus Povoados. Disponível em: http://camara.tobiasbarreto.se.io.org.br/dadosMunicipais
- * Pesquisas de Campo desenvolvidas pelo Acadêmico Tancredo Wanderley de Carvalho Filho.
- * HISTÓRIA DE TOBIAS BARRETO. José Marcio Mateus dos Santos - MIPIDEIAS. Documento escrito em 23/09/2016.
- * Biografia dos Patronos da Academia Tobiense de Letras e Artes - ATLAS. Virman - Antônio de Oliveira Silva.
- * Texto adaptado da Ata de Fundação da Academia Tobiense de Letras e Artes - ATLAS, redigida a 06/12/2012.